UMA FILOSOFIA ANTICOLONIALISTA - REPRODUÇAO DA ENTREVISTA DO ÚLTIMA HORA COM O ENGENHEIRO HILDEBRANDO HORTA BARBOSA EM 1957.

A entrevista no Última Hora com o engenheiro Hildebrando Horta Barbosa foi publicada em 24 de janeiro de 1957. O positivista comunicava as posições do Clube Positivista como aliado da luta anti-imperialista em toda parte. Hildebrando foi uma liderança importante na Campanha do Petróleo ao lado do seu parente Marechal Júlio Caetano Horta Barbosa. O resgate do documento tem o sentido de reiterar a importância histórica dos positivistas sistemáticos no pensamento brasileiro não só quanto ao anticolonialismo radical, mas na formação de toda política progressista. Desde a Abolição da Escravidão e a Proclamação da República até as lutas nacionalistas dos anos 50 e 60, podemos traçar um panorama de contribuições sólidas de positivistas e pessoas formadas por eles. Abaixo reproduzo a matéria com fidelidade transcrevendo a imagem do jornal Última Hora.

Luiz Hidelbrando Horta Barbosa (25/08/1900) - (11/08/1973)

Hildebrando Horta Barbosa, Sobre Augusto Comte: Pregando a Paz e Condenando o Colonialismo, Toma Vulto no Mundo, o Espírito Positivista

 - O positivismo prega a paz, a fraternidade entre os povos e a eliminação da violência nas relações entre as nações. É portanto uma filosofia anticolonialista. Sua tese central é a interpretação do mundo e da sociedade humana sob o ponto de vista das leis científicas.

 Assim falou ao repórter, a respeito do tema em questão, o engenheiro Hidebrando Horta Barbosa, presidente da Comissão Patrocinadora das comemorações do centenário da morte de Augusto Comte, o filósofo do positivismo.

LEMBRANDO A INVASÃO DA ARGÉLIA

 O engenheiro Hildebrando Horta Barbosa, diz recordando o caso da conturbada Argélia de hoje:

- Há cento e vinte anos, por ocasião da invasão da Argélia pelos franceses, Augusto Comte, fiel à sua filosofia, e embora francês, protestou contra a invasão daquele território pelos franceses, apontando-a como uma violência. Chegou mesmo a fazer votos pela derrota de sues compatriotas, caso não se retirassem da terra conquistada.

 Nosso entrevistado lembra a seguir outro episódio sobre Comte:

- Já em criança, com 14 anos, Augusto Comte bateu-se contra a invasão da Espanha pelos exércitos de Napoleão. Comte entrevia naquele ato do Imperador uma simples orgia militar e não a legítima defesa dos ideais da grande revolução.

REPUBLICANO E ATEU

Perguntamos ao Sr. Hildebrando Horta Barbosa, que é um dos líderes dos positivistas do Brasil, qual a influência dessa filosofia no mundo de hoje, se hã maior, ou menor, difusão da mesma.

- Há - diz ele - sem dúvida, uma redução do positivismo sistemático (como filosofia) mas verifica-se uma enorme, imensa preponderância, cada vez maior, do espírito positivo e dos seus métodos científicos. O espírito sempre crescente de investigação científica, a sede de conhecimentos, indicam a tendência positiva do mundo.

BRASIL, PÁTRIA DO POSITIVISMO

Acredita o Sr. Hildebrando Horta Barbosa que o Brasil é hoje a pátria do Positivismo, situação que no século passado pertenceu à Inglaterra.

 Recordo as palavras de Rondon, proferidas dias atrás na ABI:

- O Marechal Rondon, atualmente o mais antigo adepto da Religião da Humanidade (O positivismo), relembrou na reunião levada a efeito na ABI o seu entusiasmo juvenil, quando, discípulo de Benjamin Constant, veio a conhecer a ciência sociológica devida ao gênio de Augusto Comte. Daí, diz o marechal ter reafirmado sua fé nos ideais de paz e fraternidade entre todos os povos da terra, ideais que o levaram a retomar, sobre bases mais firmes, o plano de proteção aos índios.

ATITUTE POSITIVISTA NO CASO SUEZ

Queremos saber do nosso entrevistado, onde a filosofia positivista, em termos práticos, tem sido mais aplicada hoje.

 - Pondo de parte - diz ele - o caso do Brasil,  tem-se verificado ações positivas (ou positivistas) em várias partes do mundo. Aliás, pode-se assinalar o caso dos Estados Unidos, ao se colocar contra França e Inglaterra no caso de Suez. Essa atitude foi anticolonialista, ficando assim dentro dos postulados de Comte. Tivesse aquele país se colocado ao lado dos interesses franco-britânicos e teríamos quem sabe a conflagração mundial. E assim, como esses, há vários outros episódios de ações positivas.

 Perguntamos, finalmente, ao Sr. Hildebrando Horta Barbosa quais os adversários principais do positivismo responde:

- Os maiores adversários são aqueles que representam o espírito do passado, das filosofias superadas. Por exemplo, a metafísica e a teologia. Eis o que podemos classificar de binômio adversário do positivismo.